3 de julho de 2010

Brasil volta para casa

Ah, o futebol! Paixão nacional. Em anos de Copa do Mundo, então: tesão nacional. Após uma campanha decepcionante no mundial da África do Sul, a (horrível) imprensa esportiva já definiu seus vilões: Felipe Melo e Dunga.

Diferentemente da visão deveras simplificadora que acomete nossa (horrível) imprensa esportiva, eu acredito que nada é preto no branco, oito ou oitenta. hà variações a serem consideradas. No caso do desempenho da seleção, é importante observar-se erros e acertos desde quadriênio no qual o técnico Dunga esteve à frente de seu comando.

ERROS

- Convocação: eu entendo que os critérios adotados pelo Dunga não tenham sido meramente técnicos. Ele se preocupou também em levar jogadores de sua confiança e que formassem um grupo forte e unido. Acredito que não há fórmulas definidas de sucesso – sobretudo no imprevisível e mágico universo do futebol. Há diversas linhas de ação para que um treinador aja e, dentro de cada uma delas, é possível realizar um trabalho bem sucedido, um time campeão.

De qualquer maneira, a falta de um meia mais ofensivo para fazer a composição com Kaká me pareceu uma insistência inócua do Dunga. Isso não apenas vai contra a história do futebol brasileiro (e portanto ele deu pessoalidade demais à seleção, sendo ela um patrimônio de todos), como também limita técnica e taticamente qualquer equipe. Não custa nada ter uma alternativa a mais para variar partidas mais complicadas.

É um erro relativamente grave, mas que, tendo em vista a forma como a seleção foi eliminada, é atenuado conforme apontamentos feitos abaixo, nas considerações sobre os acertos da seleção na Copa.

- Insistência: por mais unido que fosse o grupo, insistir com alguns jogadores como o Michel Bastos foi um erro. Faltou ao Dunga sensibilidade para substituir alguns jogadores em momentos-chaves das partidas. Faltou também, consequentemente, melhor aproveitamento do banco.

- Trabalho Psicológico: a forma como se deu a eliminação brasileira, mostrou que os jogadores estavam desfocados em relação ao grande objetivo do hexacampeonato. Ou entraram excessivamente confiantes – o que os levou à derrota; ou entraram focados, mas o gol de empate holandês (e posteriormente o da virada) lhes atacaram de tal maneira, que eles não souberam assimilar o resultado adverso (ao contrário dos holandeses, que se mantiveram inabalados, mesmo enquanto estavam perdendo) – o que os levou à derrota.

Adendo de 8 de julho: Apesar da derrota para a Holanda numa das semi-finais, o Uruguai fez uma campanha belíssima nessa Copa e pode inclusive terminá-la com um belo terceiro lugar. Essa situação me fez aumentar um pouco mais a culpa de Dunga e também, claro, do próprio time brasileiro. Se Oscar Tabárez, tecnico do Uruguai, conseguiu levar uma equipe limitada, como é o caso da uruguaia (apesar de bons talentos individuais como Lugano, Suárez e Forlán) à decisão de terceiro lugar, porque o Brasil não conseguiu, tendo um time melhor? Tudo bem que pegou a finalista Holanda no meio do caminho, que de fato tem um time melhor. Mas mesmo assim, faltou um pouco de garra à seleção.

Os jogos do Uruguai, por exemplo, foram todos emocionantes, excitantes. Sem contar que eles possuem um craque (Forlán) que decidiu várias das partidas. E isso faltou ao Brasil. Um jogador decisivo. Um Craque. O cara que batesse no peito e chamasse a responsabilidade para si.

Kaká, a princípio, seria esse jogador decisivo. Mas devido à sua contusão, não pode sê-lo nessa Copa. E a seguinte constatação me entristece: tirando o Kaká, não há jogador brasileiro que decide jogo? Quem seria esse cara? Ronaldinho Gaúcho, Robinho? Duvido muito. Será que faltou talento a essa geração brasileira?

ACERTOS

- Convocação: sim, ao mesmo tempo em que foi um erro, ela foi um acerto. Por isso que eu digo que a campanha brasileira não pode ser vista por um viés simplificador, ou seja, como faz a nossa (horrível) imprensa esportiva.

Bom, já apontei o porquê de ter considerado a convocação do Dunga um erro. Agora, uma vez convocada e uma vez que a bola começou a rolar em solo sulafricano, o Brasil mostrou sim futebol para ir longe na competição. De certo não mostrou o melhor futebol de todos, mas era razoável. Não fazia jus às seleções de outrora, mas era o suficiente para chegar numa semi-final, por exemplo; ou até mesmo a uma final, quem sabe. Sem contar que a história do esporte bretão já nos mostrou, em diversas ocasiões, que um apanhando de bons nomes não é o suficiente para se alcançar o sucesso: 2006 está aí, recente na nossa memória.

O que faltou ao Brasil, mais do que qualidade técnica (quem diria, por exemplo, que jogadores como Elano e Ramires fariam falta à seleção), foi inteligência emocional. Embora tenha feito um primeiro tempo genial contra a Holanda, fez um segundo desastroso. Jogadores como Robinho, Kaká, Lúcio e Gilberto Silva, por exemplo, que deveriam ter feito chover em campo naquele momento de adversidade e de pressão holandesa, simplesmente sumiram. Ignoraram seus papéis de liderança, suas experiências em decisões, e deixaram se abater.

Convocar Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Neymar ou Pelé não faria diferença naquele instante. Porque não tínhamos jogadores ruins em campo, mas sim um time morto. Ironicamente, um dos pontos que o Dunga tanto valorizou, que foi o de montar um grupo unido e de jogadores com paixão pela camisa amarela, foi o que nos derrubou na Copa do Mundo. São contradições que não se explicam.

- Paixão: trazer de volta paixão pela seleção brasileira, tanto dos jogadores (que agora querem mesmo vestir a amarelinhas) como dos torcedores, que mesmo não gostando da convocação, acreditava e torcia muito para que o Brasil fosse longe.

- Imprensa: colocar a (horrível) imprensa esportiva no lugar dela, montando uma barreira contra os boatos e intrigas que toda hora surgem foi um grande feito. Chamar o Alex Escobar de cagão, como fez o Dunga, sem dúvida alguma é um ato desnecessário. Mas mostrar-se inabalado aos sutis insultos dos palpiteiros de plantão, que usam e abusam de seu poder midiático para impor suas ideias, foi um mérito muito digno do Dunga. Ao longo desses quatro anos foram ofensas à sua educação, ao seu trabalho, misturando o pessoal com o profissional. A (horrível) imprensa esportiva brasileira mereceu!

- Tática: o Brasil tinha um bom esquema tático, sobretudo na parte defesniva, sempre muito bem postada. Não apenas a zaga, que é muito boa, como também a marcação desde o meio de campo. O ataque, óbvio, deixou a desejar: resultado de um estilo defensivo do técnico Dunga e da falta de inspiração de volantes que sabem sair com a bola, mas que nesse Mundial erravam passes como nunca vi. Pode ser considerado um erro também, uma vez que a convocação tem influência na armação tática da equipe.

Pois bem, essas são apenas alguma considerações referentes ao trabalho do Dunga frente a seleção, especialmente durante a Copa do Mundo de 2010. Como é possível perceber, não é um objeto fácil de analisar. Muito pelo contrário, é extremamente complexo. Por isso acho importante analisar e entender o que houve de bom e o que houve de ruim – porque certamente existiram variações desses dois fatores.

Não é apenas a concentração em Weggis ou o meião do Roberto Carlos que causam a derrota de uma seleção. Não é apenas a expulsão do Felipe Melo ou mau humor do Dunga que nos tiraram o hexa.

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